Girl From Sao Paulo

"you are crossing the tropic of capricorn".

02 November 2006

a sutlieza de um sentimento

Estava eu caminhando pelo shopping quando de repente me encontrei com um amigo de infancia do marido.
Profissional competente e respeitado, era alvo de muitas brincadeiras entre nós por ser solteiro convicto e afirmar que jamais se casaria e nem tampouco pretendia sair da confortavel residencia familiar onde morara desde criança. Há muito tempo não nos encontravamos, mas eu acompanhei as atribulações pelas quais a vida dele passou nos ultimos anos (a perda de um irmão, a falência financeira do pai, o diagnostico de doença terminal da mãe). Durante um tempo ele evitou sair com os amigos, e só aparecia em festas de casamento ou batizado. Parámos de insistir em vê-lo.
No entanto ali estava ele com um sorriso tão sincero, me oferecendo um café que eu apesar de ter um ingresso de filme para começar em 5 minutos, resolvi ficar com ele. Tenho certeza que o nosso café foi melhor do que o filme (que ainda não vi).
Me contou que apesar das dificuldades financeiras, continuava na academia. Os pai estava refazendo a vida, a mãe no momento estava estável, e ele tinha se mudado de casa. Tinha mudado o escritório, estava apaixonado e falou até em ser pai. Enquanto ele falava eu pensava em como a vida nos prega peças - boas e menos boas. As dificuldades que temos de olhar de frente nos obrigam a mudança e quando chegamos ao fim estamos mais amargos ou mais fortes. Eu sempre tentei chegar ao outro lado sem amarguras, mas nem sempre foi fácil. Lá pelas tantas percebi que o colarinho de sua camisa estava puido. Prestei atenção nos olhos dele e vi que tinha envelhecido, carregava no olhar o peso das experiencias e o brilho da esperança. Pedi licença rapidinho para usar o lavabo. Mas foi só para ele não perceber que fiquei emocionada.
Não temos tanta intimidade no entanto senti uma emoção forte durante essa conversa. As vezes, um detalhe apenas nos empurra alem da linha que divide um estado e outro. O que foi que me empurrou? O olhar dele? A esperança? O filho que ele quer ter? O instinto de sobrevivencia? O colarinho puido da camisa?

29 October 2006

cinema interativo

Adoro cinema.
Não sou mais aquela que corria para pré-estreias a meia noite, mas procuro assitir os filmes com mente aberta e de preferencia sem ter lido a crítica. Alguns dos filmes de que mais gostei descobri sem ter qualquer espectativa. Amelie Poulin, Beleza Americana, Blue Velvet, A Dupla Vida de Veronique, Os Suspeitos, Reservoir Dogs são alguns poucos exemplos.

Mas nos ultimos tempos, tenho vivido uma situação que se repete quando vou ao cinema, e isso acontece independentemente de horário ou de bairro: pessoas conversam durante o filme!!!
Já reclamei para o pessoal da adminstração, já fui alvo de comentários agressivos quando chamei a atenção da mesma pessoa pela terceira vez e já até me levantei e fiquei de pé na frente do casal que teimava em continuar o papo de home-theatre dentro do espaço publico onde nos encontrávamos para assistir o filme.
Francamente! Será que eu perdi alguma moda? Falar no cinema agora é da hora? Me parece muito injusto comigo e com os demais já que o proposito de ir ao cinema é compartilharmos a experiencia democraticamente e com educação. Não tenho obrigação de escutar a previsão que meu vizinho tem sobre o que vai ocorrer no filme. Nem de ouvir nêgo atendendo o celular pra dizer que não pode falar!!!! achei que caixa postal era pra isso. Assim que entro no cinema desligo o meu celular e confesso que não é um sacrificio tão grande assim. E o pior é que as pessoas atendem e nem ficam constrangidas.
Aliás, tenho direito de escutar apenas o dolby surround sound da trilha do filme. Já basta o ruido insuportável da pipoca.

Comecei a tentar entender porque isso acontece com tanta frequencia.
Ansiedade? Será que as pessoas ficam tão ansiosas com o andamento do filme e por serem latinas e tal são mais expressivas e ......nahh.
Intimidade? Estão no escuro, que remete a intimidade e portanto convida a se abrir...nahh.
Acho que é porque são folgadas mesmo. Acham que tem esse direito, e não precisam se preocupar com os demais.

A vida é cheia de concessões, fiz as pazes com a pipoca. E quando o cinema não está lotado, mudo de lugar se por acaso me vejo rodeada por matracas.
Mas ainda bem que existe a Mostra de Cinema. Esse é o unico lugar onde parece que existe um respeito coletivo pelo direito de assistir o filme em silencio.