Girl From Sao Paulo

"you are crossing the tropic of capricorn".

09 July 2008

we'll always have paris


Estou no meio de umas férias na Velha Europa, escrevendo de Paris neste momento.
Antes de aqui chegar, passei em alguns outros lugares, vi muita familia, meus pais, alguns amigos, revisitei memorias da infancia e descobri muitas coisas novas. Material para vários posts.
Mas hoje, vou escrever sobre hoje apenas.
Acabei de voltar da Rue Lamarck (a mesma onde fica a Igreja de Sacré Coeur) onde visitei a loja de minha amiga Sylvie. A gente conheceu-se em NY uns 20 anos atras, enquanto ela estudava moda e eu cinema. Ficámos amigas logo desde o primeiro dia e assim foi até ela voltar a Paris, para eventualmente abrir o atelier que tem até hoje.


Nasceu em Bordeaux e sonhava ser bailarina. Estudou com diligencia até chegar ao ballet nacional, e um dia sofreu um acidente no tronozelo que a deixou incapaz de continuar. O desgosto foi tamanho que ela entrou em depressão, e a mestre dela pensou em mandar Sylvie para NY estudar moda e assim continuar na companhia de ballet como “figuriniste”.
Tivemos uma amizade curta (os dois anos do curso dela) mas intensificada pelo fato de ambas sermos de outros lugares e termos em comum nossa história de europa, e depois ao longo dos anos mantivemos contacto, trocando novidades, ideias, dificuldades e alegrias. Apesar de muito tentar, não nos vimos mais.
Ontem, depois de tantos anos fui até a loja. Quando a vi, percebi que ela está igualzinha ao que eu lembro. E que ela tambem. Como é possivel, em tantos anos? Com um abraço de dois ou tres minutos, começamos a chorar em prantos no meio da loja e ela teve de encostar a porta.

Ela me disse que fui uma das pessoas que mais a marcou na vida. Que pensa em mim como se fosse sua irmã. Meu coração aperta ao pensar que mesmo de tão longe, mesmo depois de termos passado por tantas outras vidas, ainda é possivel voltar atras no tempo e reviver algo como isto. Por uns minutos, estava com vinte e poucos anos.
Viva a amizade.

Sylvie Camicas faz chapéus.
Os chapéus dela são sensacionais. Cada um diferente dos demais, todos feitos cuidadosamente a mão. Perguntei onde os vendia e ela respondeu que em lugares como Nordstroms, Harrods, mas principalmente para mulheres de diplomatas. Muitos são encomendados e tem designs criados especialmente, como foi o caso do que ela estava a terminar para uma “mother of the bride”. Perguntei se algum costureiro tinha encomendado, e ela me contou que a Chanel quis um lote. Wow! Mas ela logo me olhou com cara de marota “I didn’t accept”. Perguntei porque e ela me responde sorrindo com um mix de orgulho e vergonha “I am proud!” Acha que sem a Coco, a Chanel não existe de verdade, e que jamais a empresa teria condições de apreciar o trabalho que cada chapeu leva.
Sylvie tem a mesa loja e o mesmo ritmo de produção há 20 anos. Trabalha em algo que ama, cria a cada dia, ganha o suficiente para se manter, e jamais vendeu seus ideais por dinheiro nenhum. Como eu sou uma businesswoman hoje em dia, pergunto se ela não podia continuar a criar, mas tambem fazer uma produção em massa dos chapéus mais simples. Ela conta que fez uma coleção para o Lacroix, e que quando os entregou, teve proposta de produção em massa, e que para os entregar quase morreu de cansaço. O trabalho é tão detalhado que não é possivel ensina-lo a outras pessoas. E portanto agora não aceita mais pedidos que ela não consiga fazer com carinho e detalhe.
Combinamos de jantar sexta feira com nossos respectivos maridos.

No meio da nossa conversa entrou uma senhora japonesa. Escutou nossa conversa em ingles e quis saber mais detalhes. A Sylvie contou que eu tinha acabado de aparecer ali, depois de tantos anos sem a avisar (eu mandei email dizendo que estaria em Paris, ela é que não abriu o mail....) Contou que a gente era amiga de muitos anos, e começou a chorar de novo enquanto contava nossa história para a senhora da California, e quase começamos todas a chorar junto. A senhora tinha uns vinte anos a mais do que nós, e imagino se ela tambem lembrou de alguma amiga, se ela tambem se viu a viajar no tempo.

Dedico meu post de hoje a todas as amigas que me marcaram.
Je vous'adore.