Girl From Sao Paulo

"you are crossing the tropic of capricorn".

01 February 2006

anos quarenta

Quando eu tinha 19 anos, "falsifiquei" o passaporte (vencido) da minha prima colando nele minha foto para assim ter 21 anos e não ser barrada em bares. Estava na faculdade, e nessa fase da vida, não se pode ter esse tipo de limite. Nessa epoca tambem o livro The Fountainhead da Ayn Rand debaixo do braço servia como uma espécie de identificador de independencia e avant-gardismo. Aos 20 anos, achamos que tudo é possivel e que ainda vamos fazer algo tão notável que o mundo vai cair de quatro. Pelo menos assim era comigo.
Fiz 24 anos. Nesse dia, por algum motivo, fiquei doente na cama e não atendi nenhum telefonema de parabens, deixando todos os amigos e familiares perocupados. Estava entrando no ano 25 - um quarto de século! Só conseguia pensar que um quarto de século tinha se passado, e que eu não tinha nada de marcante para celebrar, que a responsabilidade de ser alguem estava pesada, e que apesar de tudo o que eu tinha sonhado ainda estava engatinhando na minha carreira, ganhando um salário que me obrigava a viver de iogurte, pipoca e almoços furtivos e incognitos nos refeitórios das agencias de publicidade onde eu entregava as fitas com os filmes que meu chefe montava. No dia seguinte ao meu aniversario, minha avó conseguiu me achar em casa antes de eu sair. "Minha querida, quantas primaveras?" "Vinte e quatro, avó" respondi desanimada. Minha avó, do topo de seus 85 anos me respondeu com um suspiro "O que eu não daria para estar fazendo 24 anos".
Aí um belo dia fiz 40.
As vesperas do dia chegar, pensei: vou fazer 40. Um ano notório. Mas, ao raiar do dia, senti uma tranquilidade, achei que conseguiria carregar aquele numero com um humilde respeito por tudo o que cada ano me trouxe. A cada pessoa que me abraçava ou ligava eu anunciava feliz "40 anos hoje". A maior parte das pessoas respondia: "Nossa! Não parece! Achei que você tivesse muito menos" ou algo parecido. Comecei a pensar que 40 não deve ser tão legal assim para essas pessoas. Nasci na Europa, onde o conceito de idade é bem diferente do que é no novo mundo. A maior parte dos paises europeus existe há mais de mil anos, lá convivemos com castelos milenares, achamos a Catherine Deneuve e o Manuel de Oliveira exemplos a serem as copiados, e não nos sentimos velhos com 40 anos. Mesmo vivendo no Brasil de meu coração.
40 é um marco. Divisor das águas. Não me lembro de ninguem dizer: "Nossa, 39! Você parece bem mais jovem", e em ambos os aniversários falei com quase as mesmas pessoas. Ou seja: existe sim um numero que faz diferença. Nem que a unica diferença seja essa.
A quem está para fazer 40 - bem vindo. A vida continua igualzinha. A unica coisa que vai mudar é a expressão das pessoas, e o que elas dizem para arrematar a frase. Você parece mais jovem.