Papai Noel

Hoje passei por uma agencia dos Correios para despachar uma encomenda de natal.
Enquanto esperava, percebi que um senhor estava no balcão olhando uma pilha de cartas escritas a mão.
Fiquei curiosa.
Descobri que se tratava de cartas que são enviadas para o Papai Noel e que acabam nas mãos de agentes dos Correios pelo país afora. Mais interessante foi descobrir que cada cartinha é catalogada de maneira que o endereço de origem seja mantido em segredo, e guardado com um plano que me impressionou: os Correios se propõem a entregar nos endereços remetentes de cada carta, sem custo, os presentes que estas criancas pedem, se o cidadão comum quiser comprar o presente como um Papai Noel anónimo.
Pedi as cartinhas.
Li algumas e me decidi por duas. Uma era de uma garotinha de 6 anos que pedia ao papai Noel para ajudar a soltar o pai dela que estava preso, e cuja prisão tinha deixado a mãe triste. Ela pedia tambem que Papai Noel lhe desse uma roupinha e um sapato. A outra cartinha que escolhi era de um garotinho que só queria um tennis.
Foi dificil ler aquelas cartas. Na maioria são de crianças que depositam ali toda a esperança de um natal normal, onde o Papai Noel faz sua mágica e satisfaz o desejo que suas vidas privadas de luxos não comportam. O pedido da garotinha em especial me emocionou, porque esteve até disposta a abrir mão de seus previlégios de criança, em função de ver o pai fora da prisão e a mãe alegre de novo.
Se você quiser ser um Papai Noel anónimo, passe em qualquer agencia dos correios.
Ninguem vai lhe agradecer, e a criança que receber seu presente jamais vai saber que não foi o Papai Noel que o levou até ela via Correios. Mas, se você for coração molinho como eu, vai sentir que seu presente beneficiou a você mais do que aos Wilsons ou as Stephannys.

as vidas dos outros

Fui ver este filme hoje.
Sem espectativas, e em uma sala de cinema quase vazia.
Ultimamente, ir ao cinema tem sido bem dificil para mim, por conta um habito que complica a minha capacidade de me envolver na história. Esse hábito tem a ver com falta de capacidade de manter a concentração se alguem ao meu redor conversa durante o filme. E parece que no geral, as pessoas não vêm necessidade de manter o silencio e se absorver no que acontece na tela. Este é um problema para o qual ainda não consegui achar solução. Portanto, tenho limitado minhas idas ao cinema. Estou ficando velha e chata, talvez.
Mas hoje, consegui escolher um filme que atraiu pessoas que realmente foram para o assistir. Só no final eu percebi que o cinema esteve quieto, e as pessoas observaram a tela com aquela avidez que eu mesma julgava não ser mais possivel em um cinema comum, e sem estarmos na Mostra rodeados por outros cinefilos.
Como uma sinfonia bem cadenciada, a historia vai se desenvolvendo e os personagens se revelam. No final, sai do cinema sentindo uma espécie de inspiração que raramente sinto. Tenho vontade de fazer um filme. A ultima vez que senti isso foi quando assisti "Fale Com Ela". Ou "Pequena Miss Sunshine".
A história passa-se na fase final do regime comunista que dominou a Alemanha Ocidental por mais de 40 anos. Conta a história de dois homens que para serem honestos perante si mesmos e perante o sistema que apoiam, precisam recorrer a atos desonestos e infieis ao proprio sistema. Não vou entrar em detalhes sobre o filme, para não entregar a história que merece ser vista em primeira mão por quem quiser.
Primeiro filme de Florian Henckel Von Donnersmarck
Talvez seja o meu filme favorito deste ano.