Girl From Sao Paulo

"you are crossing the tropic of capricorn".

11 April 2009

falas brasileiro?


Hoje vou contar uma história sobre portugal.

Desde que eu moro em SP, já escutei um sem numero de piadas de portugues (98% delas eu já tinha escutado na versão americana onde o portugues é polaco). De inicio eu tentava escutar e ponderar sobre qual seria a reação mais adequada de minha parte, pois percebia que as pessoas realmente esperavam algum tipo de feedback. Mas qual seria a reação correta? Se eu ficasse ofendida ou tentasse justificar, com certeza podiam achar que eu não tinha senso de humor, e isso é algo que eu sei que tenho de sobra. Descobri que a melhor maneira de reagir a esses relatos de viajem a Portugal ou piadas de portugues - era dando risada. Não significa que eu sempre ache graça, mas essa foi a forma que eu achei para lidar com um fenomeno que me persegue desde que eu mudei para cá.

Os relatos incluem a placa no gramado que supostamente diz "por favor não pise na grama, se não sabe ler pergunte a um guarda"; e o classico pedido em restaurante onde o fregues pergunta se eles tem algo e a resposta é um simples sim ou não. Estatisticamente falando, a coincidencia é realmente impressionante. Já ouvi a história da grama umas 5 vezes, uma das quais contada por um profissionais de cinema mais respeitados e conceituados do Brasil. Quando ele me contou a história, eu apontei o detalhe de em Portugal não se usar a palavra "grama", mas ele disse que eu estava me apegando a detalhes, pois talvez estivesse escrito "relva" e não grama, o ponto era a frase em si. Eu tenho ido para Portugal com bastante regularidade, e nunca encontro tais placas, mas tambem não estou procurando por elas.

Durante os 13 anos em que morei em NY, tambem escutei alguns relatos de viajem a Portugal, mas os comentários geralmente tinham a ver com a generosidade e cultura das pessoas, a beleza das paisagens e castelos, a comida, e a sensação de que se caminha no meio de lugares cheios de história. Mas os americanos não falam portugues, e isso faz muita diferença. Vivenciar um pais com os sentidos é bem diferente de interpretá-lo pela linguagem.

Tudo isso, para dizer que os brasileiros (em geral) acham que os portugueses (em geral) são burros.
O que é uma pena pois esse fenomeno cultural provoca nos visitantes brasileiros uma obrigatoriedade de trazer de volta algumas dessas histórias piturescas da burrice lusitana, e impede-os assim de apreciar algumas das melhores coisas que o pais oferece.

Então, sempre que alguem me pergunta onde em Portugal eu nasci, já espero um desses relatos. Nenhum me surpreende, mas escuto-os compenetrada enquanto as pessoas os descrevem.

Na quinta feira que passou, tive um dia bem cansativo no trabalho. No final do dia, com o transito ainda intenso, aceitei o convite de uns amigos que moram ao lado do meu escritório e fui tomar um vinho na casa deles para deixar o tempo passar.
Ficámos conversando na cozinha enquanto preparávamos algo para comer.
Pouco depois chegou D que é um artista musical, com sua querida M.
A conversa girou em torno de cinema, de arte e vinho portuges - do alentejo Lá pelas tantas, percebendo meu sotaque, D perguntou de onde eu era. Me contou sobre sua recente viajem a Portugal. Ficou impressionado com a generosidade das pessoas, e a beleza da cidade de Lisboa. E contou que já na chegada percebeu que estava na europa, quando pegou um taxi mercedes-benz e o taxista escutava Stravinski. Quando passaram pelo estádio de futebol, D perguntou quai eram os dias de jogo, e o taxista respondeu "futebol para mim é excremento".
Apesar de a maioria dos taxis serem mercedes-benz, não creio que todos eles escutem musica erudita e detestem futebol. Mas com certeza, tambem não são todos burros. Nem eles, nem os policiais, nem os garçons e nem os moços que colocam placas nos relvados.

Concordam?

Ao D, que me contou a primeira história interessante de Portugal desde que moro no Brasil.