Girl From Sao Paulo

"you are crossing the tropic of capricorn".

11 June 2007

Esmeralda



Quando comecei a visitar o Brasil, naquelas ferias americanas de duas semanas corridas em que íamos de SP para o interior na tentativa de encaixar o tal “merecido descanso” entre compromissos familiares, frequentemente perguntava ao maridão sobre as praias do Brasil. As tão famosas e exoticas praias tropicais dos editoriais de moda, dos filmes, as celebres Copacabana e Ipanema continuaram durante um tempo a habitar o meu vasto imaginário.
Só quando viemos morar em SP é que finalmente fomos passar um final de semana prolongado na casa de uma tia em Ubatuba.
Da casa, construida na areia, acompanha-se o apaziguador vai-vem das ondas que tanto me lembrou de minha infancia. Toda minha vida morei perto do mar e nele achei conforto. Mesmo quando pequena sentava na areia contemplando o horizonte com uma intima cumplicidade com o mar. Aguardava o segundo em que os barcos pulavam para além da curva que dividia o nosso mundo visível do outro que era demasiado incógnito ainda para ser compreendido. Qual seria a sensacão de estar completamente rodeada por mar? Aprendia historia e geografia na escola e imaginava os Navegadores no seculo 14 desbravando o mar em suas míseras e rudimentares embracações, desafiando a teoria que dizia que o a terra era plana e que em algum lugar chegaria o Fim do Mundo.
Nesse primeiro final de semana em Ubatuba, o pessoal da casa resolveu passar a tarde na vila, e eu fiquei para traz para “descansar” (desculpa muito mais aceitável do que dizer que queria e precisava ficar a sós). Eles partiram felizes e me deixaram com o meu mar.
Entrei na água, mergulhei no verde esmeralda e fiquei alguns segundos submersa naquele silencio em eco que só se acha na água. O mar do Brasil é morno, amniotico. Na Europa e na costa leste dos Estados unidos a água é gelada e obriga o corpo a movimentos rápidos, mas aqui no mar tropical de Ubatuba eu me senti acolhida, protegida. Quando não consegui mais segurar a respiração, subi á superficie e percebi que em vez de enfrentar o mar, etava de costas para ele, olhando a praia.
Não havia ninguem por perto e as casas, camufladas pela densa mata atlantica estavam invisiveis.
Num devaneio, me imaginei um Navegador ancorando aqui pela primeira vez. Depois de incontáveis dias em alto e turbulento mar, sob um impiedoso e escaldante sol e á mercê de ventos e marés, teriam eles acreditado estar vivos ao se depararem com esta terra deslumbrante? Ou, … penso eu….. será que ao olhar aquela verde e latejante mata, aquele ameno mar esmeralda e a praia de areias douradas, se viram no Paraiso?


(postado em ingles no meu primeiro dia como blogger)

10 June 2007

of mice and women



Uns dias atras chegando em casa vi um rato fugindo da garagem para sabe-se lá onde.
Só sai do carro depois do marido olhar (um tanto impaciente) o recinto e me garantir que o bicho não estava por lá.
Comecei a pensar que a gente devia começar a procurar apartamento, mas logo o marido me lembrou do incidente do rato no apartamento da mãe dele. Ela mora em um apartamento antigo de higienópolis. Apesar da manutenção ser excelente e do apartamento dela ser extremamente limpo, um rato atormentou-a por mais de um mês, driblando ratoeiras e venenos até que finalmente um dia sumiu provavelmente para morrer em algum lugar. Lembrei tambem do cheiro horrendo que dominava o lugar onde eu trabalhava, até finalmente o faxineiro achar um ratão preso no forro de uma das salas.
Por motivos até obvios, temos um nojo incrivel de ratos. Eu me considero uma pessoa bem corajosa, já socorri pessoas feridas e uma vez segurei a testa de uma amiga enquanto ela passava mal na beira da estrada. Mas a ideia do rato mexe com meu estomago de uma maneira impressionante, causando espasmos. Arrghhhh.
Esquecemos o ratinho.
Na sexta feira de noite eu estava na cozinha preparando alguma guloseima quando vi algo passando entre o fogão e a geladeira. Um fragmento, de uns dois frames talvez. Sinceramente não deu para saber o que era, por ser tão rapido deduzi que não era cobra. Chamei o marido, e a nossa cachorrinha valente, mas nada de acharmos bicho qualquer em baixo da geladeira. Tranquei a cachorrinha na cozinha e fui para o google procurar "home made natural mouse repellants" porque temos dois cachorrinhos e a opção de usar veneno não existe. A ideia de matar um bicho me desagrada um monte, coitado dele - está apenas se virando com o carma que lhe coube. Mas mesmo assim não quero ele aqui em casa, e estou disposta a mata-lo já que não dá para convencê-lo com o charme de minhas palavras.
Sabado de manhã, chegou o Sr. Zé que está fazendo umas reformas de manutenção aqui na casa. Fui na cozinha - nada de rato e a cachorrinha parecia calma e sem vestigios de ter caçado. Os meninos levaram os cachorrinhos para passear enquanto eu fui trocar comida e agua do canário. Foi só levantar a cobertinha dele que começou a cantar. A gente achava que este era o canário mais feliz do mundo até descobrirmos que ele canta assim para chamar uma fêmea. Canta tanto que as vezes as pessoas ao telefone nos perguntam onde estamos. Recentemente fomos a uma pet-shop para comprar uma namorada mas desistimos quando o vendedor explicou que é comum o canário parar de cantar quando ganha sua fêmea. (Que egoismo!!!)
Mas voltando ao rato. Trocando a comidinha do Tico canarinho, percebi que uma das minhas maçãs argentinas tinha sido mordiscada. De acordo com o Sr. Zé era rato sim.
Ai ai ai ai. E agora? Tudo indicava que o bicho se achava tão dono da casa como eu. Voltei pro google, desta vez para achar a localização da Casa e Construção onde lembro de ter visto ratoeiras. Fizemos uma boa limpeza na cozinha, isolando todas as comidas (farinhas, cereais, arroz) em saquinhos de plastico. O marido pegou umns pedacinhos de cheddar ingles e preparou as ratoeiras. Fui deitar preparada para acordar com o barulho da ratoeira, mas dormi tão profundamente que quando acordei tinha esquecido do ratinho. A gente acorda com passarinhos cantando aqui em casa. De um lado temos um amigo sabiá e no outro um bentevi. Eles visitam todos os dias, provavelmente para roubar um pouquinho da comida do Tico.
De repente o marido grita lá da cozinha: "nossaaaaa..... que nojoooooo"
Pegámos o rato intruso.
Não consegui olhar. Fiquei na porta da cozinha, escutando a descrição. Chamámos o guarda da rua e perguntámos se ele topava pegar o rato, que a gente pagaria qualquer coisa. Uns segundos depois - ele saia com 20 reais em uma mão e o rato enrbulhado em plastico na outra.

Como melhorar um dia que começou assim?
Decidi ir ao Museu da Lingua Portuguesa, na Estação da Luz. A mostra da Clarice Lispector está lindissma, mesmo para quem não seja muito fã dos textos da Clarice. Eu confesso que ainda não li nada dela, alias pode ser dela meu proximo livro já que estou quase terminando um. Tem uma sala com frases dela soltas em baixo relevo no gesso, incrustadas na parede. Em outra, fragmentos de poesias ou textos dentro de umas caixas de luz, e ainda uma sala cujas paredes estavam cobertas por cabinetes de madeira. Ao puxar abre-se uma gavetinha com textos e fotografias originais do acervo da familia. Esta sala estava cheia de curiosos, foi legal ver as pessoas debruçadas nas gavetinhas decifrando a história desta escritora.
O resto do museu decidi guardar para ver com meus amigos do trabalho. A gente combinou que vai fazer cada vez mais desses programas.
Almocei na Pinacoteca, e caminhei até a Estação Pinacoteca (aquela que fica ao lado da Sala São Paulo, onde os presos politicos eram torturados) e achei um cafézinho sensacional. Fiquei lá sentada um pouco até me decidir a voltar para casa.
Até breve.