Girl From Sao Paulo

"you are crossing the tropic of capricorn".

10 October 2006

garota de sao paulo

Sempre que os desafios da cidade grande começam a se tornar grandes demais, eu penso em um refugio que descobri desde que moro no brasil. A fazenda que a familia do marido tem há decadas. Lá posso me esconder (como já fiz algumas vezes) de guerras, desapontamentos, pressões, correrias etc.
Cheguei aqui no domingo, embalada pelas saudades (fiquei mais de um ano sem vir) e pela tendencia que tenho a romantizar as memorias. Tinha saudades de:

• Respirar o ar puro nos campos.
• Sentir o aroma da flor de laranjeira.
• Conversar com o povo simples do interior.
• Saborear as verduras fresquinhas da horta.
• Jabuticabas.
• Frango caipira.
• Piscina e sol.
• Nada para fazer.

DIA 1
Acordei com o som de um alto-falante ecoando musica sertaneja. Se levarmos em conta os alqueires que rodeiam a sede da fazenda, e a duração do trajeto até a estrada de alcatrão, das duas uma: ou eu estava alucinando ou alguem dentro da fazenda estava em clima de festa.
As 9:15 da manhã.
A mulher do administrador me explicou que se trata de um cidadão que abriu na entrada da cidade uma loja que instala som em automoveis. O som que eu escutava vinha de lá, e era uma espécie de propaganda. Acho que nunca escutei som tão alto ou tão poderoso, para chegar da cidade até aqui!!!! Me garantiram que o moço ligava o dele por uns 10 minutos no máximo então eu relaxei. Dito e feito. Estava na minha segunda xicara de café quando o som sumiu. Tão distraida fiquei com o assunto som, que esqueci de passar repelente, e em 12 minutos levei umas 24 picadas de pernilongos que eu tenho certeza possuem sofisticadas técnicas de comunicação para divulgar minhas visitas. Por sorte temos o allegra, que tem lugar garantido na minha bolsa.
Hora da caminhada no pasto favorito.
Estava chegando perto da porteira quando a mulher do administrador veio correndo: “melhor não ir andar viu”
Melhor????
Descobri que a maior parte dos pastos estavam com cana de açucar, e que as vacas e seus novos bezerros foram relocadas para o pasto onde eu caminho há mais de 10 anos. A ideia que eu sempre tive sobre vacas era que elas são uns bichos dóceis e meigos. Os bezerrinhos são a coisa mais fofa. Desde a minha infância eu tenho esse carinho por bovinos. Mas um dia num passado recente tudo mudou durante uma dessas caminhadas, quando eu tentei me aproximar de um bezerrinho para passar a mao nele e veio uma vaca correndo furiosamente na minha direção. Nunca tinha visto uma vaca brava, então não tinha muito como avaliar o real estado mas, achei por bem sair correndo no sentido oposto e pular uma cerca de arame farpado de uns 2 metros de altura em menos de 4 segundos.
Cancelei minha caminhada.
Fui para a piscina. Fiz meus exercicios de natação, olhei os eucaliptos, tomei um solzinho. Depois peguei meu livro e deitei na rede do alpendre. Quando acordei, o mundo tinha mudado. Uma onda de bezouros chegou e se instalou por todo o lado. Era bezouro pulando, bezouro se arremessando contra a luminaria, bezouro no meu cabelo. Parecia coisa saida da biblia. Uma praga de bezouros. Que alias é um bichinho totalmente sem sentido porque a unica vez que eu o vejo, ele está se debatendo contra uma lampada até que por fim morre e vira comida de sapo. Mas antes de morrer, estes bezouros me deram um trabalho……fiquei acordada até tarde me livrando deles na cama, no pijama, no travesseiro. Sonhei que a terra foi invadida por bezouros gigantes, mas que na hora de atacar ele não conseguiam porque não tinham rigging. (quem me conhece entende as ramificações freudianas deste sonho!!!!)

DIA 2
Acordo com dor de cabeça. Vou no chuveiro mas não há agua. Estranho. Brasil……água…..Aqui tem poço artesiano, não estamos em periodo de seca, mas apesar de tudo não sai agua do chuveiro. Volto a colocar as minhas roupas e saio em preocura de respostas.
A cozinheira me conta que desligou o registro porque o cano quebrou. (???!!!???tecla sap) e que em 10 minutos a agua vai voltar.
Me garante um pasto onde eu não vou me deparar com vacas. Tomo um café, passo um protetor solar e pego um chapeu de palha. Um pasto novo! Otimo, é importante ser flexivel, aceitar mudanças. As vacas que fiquem naquele pasto que eu ganhei um novo. Um garotinho da fazenda me acompanha até o pasto novo, e na porteira ele retorna. Eu entro depois de olhar em volta e perceber que não há nenhum bovino a vista. Dou duas voltas no pasto. Estou para começar a terceira volta quando vejo um bando de gansos passando pelas madeiras do portão. I can deal with geese, eu penso. Sigo em frente, mas assim que me aproximo deles, eles investem na minha direção. Eu não sei muito bem qual é o potencial de estrago de um bando de gansos, mas acho melhor descobrir no google. Mais uma cerca, desta vez de madeira e sem arame farpado. Estou quase me voluntariando para as olimpiadas, modalidade: salto em altura.
Volto para a sede com vergonha de contar meu pequeno incidente com os gansos. Apesar da caminhada “breve” eu estou coberta de suor (pudera!!!!) e ninguem pergunta nada.
Comecei a ponderar.
Fiquei tanto tempo sem vir aqui, sera que a natureza está me rejeitando?
Melhor ir para o alpendere e ler meu livro. Na volta pra SP eu retomo os exercicios. Já foi o tempo em que eu era garota do campo, hoje em dia a cidade anda nas minhas veias. E a sábia natureza - descobriu que eu era uma farsa.

Mas no alpendre, eis que me aparece a chance de reverter tudo. Mãe natureza me jogou um brinde.
Olho no chão e vejo um passarinho minusculo, de uns 4 a 5 centimetros, piando. Coitadinho. Como ele veio parar aqui? Será que algum bicho tentou matá-lo? Peguei o piu piu e fui para a cozinha procurar comida. Mas aos poucos fui lembrando: eles comem direto da boca da mãe. Melhor descobrir o ninho. Voltei ao alpendre e olhei cuidadosamente e escondido entre duas telhas vejo o vestigio de um ninho. Meu amiguinho pode ter caido ou ter sido empurrado por um irmãozinho ganancioso. Pego uma cadeira e peço ajuda aos moleques. Com um deles nos ombros, devolvemos o passarinho a seu lar doce lar.

E agora, com licença. Preciso ir. Tem um cavalo selvagem no curral me esperando para ser amansado.

3 Comments:

At 4:18 PM , Anonymous Anonymous said...

Ap
Essa do ganso é sensacional, vc sabe que a Angela estava caminhando no parque de Alphaville quando veio um galo bravo, ela espantou e em seguida vieram 2 gansos meio voando p cima dela querendo atacar, ela entrou em pânico, teve um surto as pessoas em volta começaram a rir muito e ela ficou mal de vegonha pq tinha 1 monte de criança, vc não acredita o patético da cena... Imagino que a sua deve ter sido parecida, ataques de pernilongos, besouros, vacas e gansos !! Volta p S. Paulo !

 
At 10:08 PM , Blogger Girl From Sao Paulo said...

Ainda bem que pelo menos tive sucesso na empreitada acesso a internet.
Volto a SP em dois dias.

 
At 10:59 AM , Anonymous Anonymous said...

Quando era pequena, passei apuro semelhante, mas com vacas. Só me lembro de meu pai agarrando minha irmã em um braço e me puxando pelo outro, e de nós correndo desesperadamente pra pular a cerca. Mais tarde, os trabalhadores da fazenda culparam minha camiseta vermelha pelo ataque. Gente de cidade. Pfft.

 

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